quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sobre o medo da liberdade


O texto “O Medo da Liberdade”, do Osho, que foi publicado recentemente no site do Instituto Osho Brasil (www.oshobrasil.com.br) é um daqueles que mexe com a gente e nos põe a refletir sobre a maneira como estamos vivendo a vida, no dia-a-dia e nas suas cenas mais simples.

Na verdade, a vida nos coloca na parede a todo instante. E a gente encontra sempre um meio de escorregar, de escapar desse confronto com nossa própria liberdade.
A todo momento estamos diante de desafios, diante de obstáculos, de incertezas. E isso significa que estamos sempre diante de oportunidades para assumirmos a nossa liberdade, oportunidades de escolha e decisão, oportunidades de manifestação da consciência. Mas, ao invés de encararmos essas oportunidades, preferimos, por exemplo, comer na hora em que o costume definiu como sendo a “hora certa” e deixamos de aguçar nossa percepção para ouvirmos as necessidades de nosso próprio corpo; preferimos usar a roupa da moda; aceitamos a imposição midiática de uma música de qualidade discutível; nos submetemos passivamente aos gostos do grupo - tudo isso sem questionamentos internos. É muito mais cômodo e não corremos riscos, quando seguimos os procedimentos usualmente seguidos pela maioria das pessoas.

E é interessante considerar que não se trata de se fazer apologia da rebeldia pela rebeldia. Aliás, Osho nos alerta que a rebeldia do adolescente não é em si uma manifestação de liberdade. Essa simples rebeldia é própria de qualquer animal quando chega à sua adolescência. É o seu processo natural de afirmação enquanto indivíduo que está se tornando maduro e rompendo os remanescentes de seu cordão umbilical. Quando o filho diz “não” ao seu pai, ele pode estar apenas seguindo a imposição de um processo da natureza de independência e auto-afirmação. Ele só estará manifestando a sua liberdade, caso ele se sobreponha a essa imposição da natureza e, num ato de consciência, consiga dizer “sim” ao seu pai, ou mesmo dizer “não”, mas desde que seja num ato de consciência.

Essa abordagem da liberdade quando aplicada às crenças e práticas das religiões organizadas nos ajuda a abrir os olhos e alcançamos uma compreensão de um mecanismo sutil a que geralmente cada um de nós se submete ao longo de nossa história pessoal.
Dentro deste ambiente em que somos moldados pela sociedade, e a ela nos submetemos, desde cedo aprendemos a dizer “sim” a conceitos como Deus, juízo final, pecado, culpa, paraíso e inferno. E, por extensão, todos nós vivemos com deveres e obrigações de praticar o bem e não cometer faltas, lutando contra tendências e anseios naturais de nosso corpo, preocupados em “vigiar nossos pensamentos e ações” para não “cairmos em tentação”.
E assim seguimos numa luta interna entre um suposto lado bom e um lado mau que coexistem dentro de nós. E nessa luta precisamos obter créditos e merecimentos para alcançarmos o paraíso celestial após a morte, devemos praticar o amor ao próximo, a humildade e a compaixão.

Aqui fica absolutamente clara a linha divisória entre a visão do Osho e a visão das religiões organizadas. Enquanto as religiões criam essa divisão interna, essa esquizofrenia, Osho nos abre as portas da consciência e liberdade. Com Osho não existem preceitos a serem seguidos. Aliás, nada existe para ser seguido. Osho sempre foi contra seguidores. Ele nos desafia a duvidar, discordar do que ele fala. E acrescenta dizendo que se o que ele fala encontra ressonância dentro de mim, se eu sinto internamente que aquilo é verdadeiro, então aquilo passa a ser uma verdade minha e, neste caso, eu estarei seguindo à minha verdade, não à verdade dele. Embora a verdade seja uma só – eterna e universal.
É claro que isso não pode ser mera retórica do Osho, caso contrário não faria o menor sentido. Então, quando Osho nos diz para não aceitarmos passivamente o que ele diz, é exatamente isso o que ele quer dizer.
Nesse sentido ele é absolutamente coerente, pois ele mesmo nos diz que seus livros e vídeos terão sido de alguma ajuda para nós, quando pudermos jogá-los fora e caminharmos com nossos próprios pés, o que, em outras palavras, podemos dizer, quando tivermos acessado nosso mestre interior.
O grande legado de Osho não são seus ensinamentos, como se fossem tratados filosóficos para estudarmos. O seu grande legado são as dicas, as provocações, os estímulos para que existencialmente façamos experimentos com a verdade, a partir de nossas práticas meditativas e a extensão dessa vivência meditativa a todas as cenas de nosso cotidiano.

Então, se não existem preceitos, nem ensinamentos, como ficam as práticas de amor ao próximo, humildade e compaixão?
Se nas religiões organizadas essas práticas são preceitos a serem cumpridos pelos seus seguidores, com Osho a abordagem é diferente.
Com Osho somos estimulados a sermos conscientes, a sermos livres. Mas aqui é fundamental diferenciarmos consciência de mente consciente. Não se trata de aguçarmos nossa mente consciente. Quando Osho fala em consciência, ele está falando em algo além da mente. A consciência da qual ele nos fala, está além das dimensões da mente e só pode ser acessada através da meditação. Ela nada tem a ver com nosso pensar. Ela tem mais a ver com nosso perceber e nosso sentir. Mais do que isso, ela tem a ver com o nosso Ser.
Quanto mais eu acesso meus espaços de meditação – de silêncio, de quietude, de paz, de serenidade – mais se aguça a minha amorosidade, a minha sensibilidade, minha alegria, minha compaixão.
Assim, amor, humildade e compaixão não são preceitos a serem seguidos para se obter créditos e assim fazermos jus ao paraíso celestial. Amor, humildade e compaixão são subprodutos naturais do estado meditativo.

Com Osho aprendemos pela nossa própria experiência que não existem deveres e obrigações a serem cumpridos e não existem proibições; não existe pecado nem culpa. O paraíso ou o inferno existem aqui mesmo, agora mesmo, e são resultantes das escolhas que fazemos, dos nossos atos e atitudes. Não existem rituais, não existem crenças nem dogmas. Cada um é senhor de si mesmo, é senhor de seus próprios passos.