quinta-feira, 3 de junho de 2010

Estamos sós - II

Estamos sós neste mundo. Digo isso, não porque li nos livros de Osho e de outros mestres, mas porque eu posso fechar os olhos e ver e sentir isso dentro de mim. Vejo a mim mesmo no estado em que estou, com meus limites e minhas potencialidades, com minhas alegrias e tristezas, vejo meus sonhos e minhas frustrações, vejo minhas aspirações e minhas relações afetivas, mas, sobretudo, eu vejo que estou só e, mais que isso, sou só. Não importa se externamente estou com alguém ou não; internamente eu sei e sinto que estou só.

Amo alguém – pai, filho, esposa, amigo. Esse sentimento é bom e puro. Mas junto com ele vem outras coisas que trago de minha história pessoal: as minhas carências, as minhas crenças, as minhas projeções, os meus medos e inseguranças. Junto com ele vem a paixão, vem o apego, vem a possessividade, vêm as juras de amor.
Fico agarrado a uma dessas pessoas e um pensamento aflora: o de que eu não estou só, de que existe pelo menos um alguém com quem posso contar - pode ser a minha companheira, pode ser meu filho, pode ser meu pai. Esse pensamento me toca bem no fundo, mas é um pensamento. E se nesse exato momento eu for capaz de fechar os olhos, aquietar minha mente e, principalmente, ir além dos pensamentos, verei que estou só.

O outro é real, ele está ali. E é verdade que eu posso contar com esse outro alguém no que se refere a um bom ouvido para escutar os meus lamentos e as minhas alegrias, no que se refere a um carinho e uma palavra amiga e sincera, no que se refere a um apoio material, no que se refere a uma solidariedade e lealdade. Mas ainda assim, se eu for capaz de fechar os olhos e entrar em contato com meu centro mais interno, verei e sentirei que estou só. Só com minha liberdade, só com minha responsabilidade para comigo mesmo, só com minhas escolhas, só com meu silêncio, só com meu prazer e minha alegria mais pura e profunda.

Essa consciência de que estou só, não vem chegando como resultado de um grande esforço – eu não tenho estado repetindo para mim mesmo, “eu estou só, eu estou só, eu estou só”. Essa consciência está chegando como resultado da dissolução natural de ilusões, de sonhos e de projeções que eu criei e crio; do desmonte de crenças e ficções em que me apoiei e ainda me apoio.
Essa consciência tem sido o resultado de um processo que incluiu a criação dessas ilusões e sonhos, incluiu a crença nessas ficções, o apego a elas, a luta por elas com toda minha força. Mas, acima de tudo, nesse processo aprendi o poder da observação, aquilo a que Osho chama de “o milagre do estar atento”. A observação desidentificada acontece junto e através da meditação. Assim, e só assim, as ilusões, as ficções, os apegos, tudo se dissolve naturalmente.
Antes que tudo se dissolva e desapareça, vivo freqüentes recaídas, experimentando a dor de ver cada ilusão e cada ficção escorrendo por entre meus dedos, sem ter forças para segurá-las.

No estágio em que me encontro, tenho um especial prazer em me deixar levar por certas seduções que mais se parecem com um doce de coco, um tango bem dançado ou um beijo gostoso. Mas procuro ficar atento e observar essas seduções, como elas atuam em mim, as minhas reações. Curto aquilo que quero curtir, mas procuro me manter atento para não me identificar com a ilusão, com a ficção. No fundo, essa atenção alimenta a minha consciência de que estou só – no mundo, vivendo a vida, me relacionando, dando e recebendo, mas internamente estando só.

5 comentários:

clarinda disse...

Um grande abraço!!!

PAKI disse...

É interessante que quanto mais aprofundo esse estado, mais gosto de estar só. E as pessoas vão, porque têm medo de sentir-se sós. Saudações!

Atemporal disse...

Boa tarde!
Fiquei emocionada com os textos que escreve e alguns me tocaram profundamente. Estou na caminhada de meu autodesenvolvimento como habitante desse planeta terra. Tomei a liberdade de postar no meu blog o seu texto "Estamos sos - II" porque voce diz ali tudo que sinto e ainda nao consigo traduzir em palavras. Obrigada! Se nao for da sua vontade a permanencia do seu texto no meu blog... diga-me, pois vou entender e retira-lo imeditamente. Grande abraço! Elaine

Blog do Champak disse...

Olá Elaine,
Sinta-se à vontade para postar qualquer um de meus textos no seu blog. Na verdade, sinto-me honrado.
Um abração. Champak

Atemporal disse...

Ola Champak!
Obrigada pela visita e generosidade, tambem sinto-me honrada com sua permissao para postar seus textos em meu blog.
Bom domingo!
Grande abraço!
Elaine