quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sobre o medo da liberdade


O texto “O Medo da Liberdade”, do Osho, que foi publicado recentemente no site do Instituto Osho Brasil (www.oshobrasil.com.br) é um daqueles que mexe com a gente e nos põe a refletir sobre a maneira como estamos vivendo a vida, no dia-a-dia e nas suas cenas mais simples.

Na verdade, a vida nos coloca na parede a todo instante. E a gente encontra sempre um meio de escorregar, de escapar desse confronto com nossa própria liberdade.
A todo momento estamos diante de desafios, diante de obstáculos, de incertezas. E isso significa que estamos sempre diante de oportunidades para assumirmos a nossa liberdade, oportunidades de escolha e decisão, oportunidades de manifestação da consciência. Mas, ao invés de encararmos essas oportunidades, preferimos, por exemplo, comer na hora em que o costume definiu como sendo a “hora certa” e deixamos de aguçar nossa percepção para ouvirmos as necessidades de nosso próprio corpo; preferimos usar a roupa da moda; aceitamos a imposição midiática de uma música de qualidade discutível; nos submetemos passivamente aos gostos do grupo - tudo isso sem questionamentos internos. É muito mais cômodo e não corremos riscos, quando seguimos os procedimentos usualmente seguidos pela maioria das pessoas.

E é interessante considerar que não se trata de se fazer apologia da rebeldia pela rebeldia. Aliás, Osho nos alerta que a rebeldia do adolescente não é em si uma manifestação de liberdade. Essa simples rebeldia é própria de qualquer animal quando chega à sua adolescência. É o seu processo natural de afirmação enquanto indivíduo que está se tornando maduro e rompendo os remanescentes de seu cordão umbilical. Quando o filho diz “não” ao seu pai, ele pode estar apenas seguindo a imposição de um processo da natureza de independência e auto-afirmação. Ele só estará manifestando a sua liberdade, caso ele se sobreponha a essa imposição da natureza e, num ato de consciência, consiga dizer “sim” ao seu pai, ou mesmo dizer “não”, mas desde que seja num ato de consciência.

Essa abordagem da liberdade quando aplicada às crenças e práticas das religiões organizadas nos ajuda a abrir os olhos e alcançamos uma compreensão de um mecanismo sutil a que geralmente cada um de nós se submete ao longo de nossa história pessoal.
Dentro deste ambiente em que somos moldados pela sociedade, e a ela nos submetemos, desde cedo aprendemos a dizer “sim” a conceitos como Deus, juízo final, pecado, culpa, paraíso e inferno. E, por extensão, todos nós vivemos com deveres e obrigações de praticar o bem e não cometer faltas, lutando contra tendências e anseios naturais de nosso corpo, preocupados em “vigiar nossos pensamentos e ações” para não “cairmos em tentação”.
E assim seguimos numa luta interna entre um suposto lado bom e um lado mau que coexistem dentro de nós. E nessa luta precisamos obter créditos e merecimentos para alcançarmos o paraíso celestial após a morte, devemos praticar o amor ao próximo, a humildade e a compaixão.

Aqui fica absolutamente clara a linha divisória entre a visão do Osho e a visão das religiões organizadas. Enquanto as religiões criam essa divisão interna, essa esquizofrenia, Osho nos abre as portas da consciência e liberdade. Com Osho não existem preceitos a serem seguidos. Aliás, nada existe para ser seguido. Osho sempre foi contra seguidores. Ele nos desafia a duvidar, discordar do que ele fala. E acrescenta dizendo que se o que ele fala encontra ressonância dentro de mim, se eu sinto internamente que aquilo é verdadeiro, então aquilo passa a ser uma verdade minha e, neste caso, eu estarei seguindo à minha verdade, não à verdade dele. Embora a verdade seja uma só – eterna e universal.
É claro que isso não pode ser mera retórica do Osho, caso contrário não faria o menor sentido. Então, quando Osho nos diz para não aceitarmos passivamente o que ele diz, é exatamente isso o que ele quer dizer.
Nesse sentido ele é absolutamente coerente, pois ele mesmo nos diz que seus livros e vídeos terão sido de alguma ajuda para nós, quando pudermos jogá-los fora e caminharmos com nossos próprios pés, o que, em outras palavras, podemos dizer, quando tivermos acessado nosso mestre interior.
O grande legado de Osho não são seus ensinamentos, como se fossem tratados filosóficos para estudarmos. O seu grande legado são as dicas, as provocações, os estímulos para que existencialmente façamos experimentos com a verdade, a partir de nossas práticas meditativas e a extensão dessa vivência meditativa a todas as cenas de nosso cotidiano.

Então, se não existem preceitos, nem ensinamentos, como ficam as práticas de amor ao próximo, humildade e compaixão?
Se nas religiões organizadas essas práticas são preceitos a serem cumpridos pelos seus seguidores, com Osho a abordagem é diferente.
Com Osho somos estimulados a sermos conscientes, a sermos livres. Mas aqui é fundamental diferenciarmos consciência de mente consciente. Não se trata de aguçarmos nossa mente consciente. Quando Osho fala em consciência, ele está falando em algo além da mente. A consciência da qual ele nos fala, está além das dimensões da mente e só pode ser acessada através da meditação. Ela nada tem a ver com nosso pensar. Ela tem mais a ver com nosso perceber e nosso sentir. Mais do que isso, ela tem a ver com o nosso Ser.
Quanto mais eu acesso meus espaços de meditação – de silêncio, de quietude, de paz, de serenidade – mais se aguça a minha amorosidade, a minha sensibilidade, minha alegria, minha compaixão.
Assim, amor, humildade e compaixão não são preceitos a serem seguidos para se obter créditos e assim fazermos jus ao paraíso celestial. Amor, humildade e compaixão são subprodutos naturais do estado meditativo.

Com Osho aprendemos pela nossa própria experiência que não existem deveres e obrigações a serem cumpridos e não existem proibições; não existe pecado nem culpa. O paraíso ou o inferno existem aqui mesmo, agora mesmo, e são resultantes das escolhas que fazemos, dos nossos atos e atitudes. Não existem rituais, não existem crenças nem dogmas. Cada um é senhor de si mesmo, é senhor de seus próprios passos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Para se conhecer Osho – II


Há poucos dias, a um comentário que citava Eckhart Tolle, eu respondi: “O que muda de um mestre para outro são suas estratégias para nos sacudir, para nos provocar, para nos fazer abrir os olhos. As mensagens não são conflitantes, mas as estratégias podem não ser convergentes. E eu aprendi com Osho que não é bom misturar os caminhos, pois a gente pode se confundir e não chegar a lugar algum.”
No dia seguinte, recebi o comentário de uma outra pessoa: “li o Poder do Agora e confesso que não percebi estratégia diferente dos ensinamentos de OSHO. Você poderia detalhar essa sua percepção e exemplificá-la ?”

Se eu recebesse essa pergunta há uns 5 ou 6 anos, teria sido mais fácil responder, pois imediatamente eu faria uma defesa emocional da preservação da mensagem pura do Osho. Com isso eu correria o risco de não reconhecer trabalhos, ações e abordagens de outros mestres que podem ser de grande ajuda para quem está procurando se encontrar, se conhecer e aguçar um pouco mais sua consciência.
Hoje eu quero aproveitar essa pergunta para responder com mais humildade e com fidelidade ao que sinto e percebo em meu coração.

Cada mestre tem suas próprias estratégias para nos seduzir, para nos envolver, para obter nosso comprometimento e nos fazer crescer. E cada um de nós é livre para aceitar essa sedução, esse envolvimento e para fazer suas escolhas e tomar suas decisões.
Ao me tornar sannyasin eu aceitei Osho como meu mestre. Isso significa muitas coisas. Antes de tudo significa entrega, aceitação, confiança. Eu sei os caminhos que trilhei até chegar ao Osho com o coração aberto, receptivo e confiante. Cada um trilha os caminhos de sua própria história pessoal.
E foi exatamente porque me entreguei, aceitei e confiei em meu mestre, que me foi possível, com os toques dele, romper muitas barreiras, dar saltos, livrar-me de apegos. Aceitá-lo como mestre e me sentir aceito como seu discípulo me deu força e apoio para me levantar e caminhar, E, aos poucos, num longo processo, fui compreendendo cada vez mais que o papel do mestre é me encorajar a conhecer meu próprio mestre interior e caminhar com meus próprios pés. Osho me ajudou a alcançar essa compreensão, através de seus toques.
Se eu estivesse dividido entre Osho e outro mestre que não enfatizasse o mesmo que ele, não creio que eu tivesse entrado de cabeça, pronto para correr riscos.

Pensando em escrever hoje, eu dediquei o dia de ontem a reler alguns segmentos do livro O Poder do Agora. Mesmo admitindo os limites de minha compreensão, eu devo dizer que sinto o Eckhart Tolle como um canal da sabedoria eterna e universal. Ao ler seu livro, eu sinto que ele me penetra pela mente. Ele explica com clareza, mas eu o sinto como se fosse um filósofo dando suas explicações. Ao ler trechos de seu livro eu digo para mim mesmo, ‘Isso é bem razoável, isso faz sentido.’ Fecho os olhos em alguns momentos porque ele mesmo sugere isso no começo do livro.
Quando eu leio um livro do Osho, eu sinto que ele me penetra pelo coração. Ao ler certos trechos do Osho, eu nada tenho a dizer, simplesmente fecho os olhos em silêncio porque não consigo prosseguir. Eu sinto a necessidade de dar uma parada e sentir internamente, e, muitas vezes, lágrimas brotam em meus olhos.
Além disso, Osho tem seu jeito peculiar de falar. Se eu sinto Eckhart Tolle como um filósofo sereno, eu sinto Osho como um poeta. Suas palavras são poemas.
E ele ainda tem aquele jeito brincalhão, debochado de se contradizer, contar piadas, nos pondo a rir e a dançar. Como diz o título de um de seus livros, ele não é ‘espiritualmente correto’.
Osho sempre foi muito contestado, incompreendido, perseguido, odiado e amado. Mas tudo isso faz parte de sua estratégia. Tudo isso ajudou a me seduzir, a quebrar as minhas resistências, e me entregar.

Mas as diferenças não se limitam a um estilo de falar e transmitir a mensagem.
As estratégias do Osho incluem suas revolucionárias técnicas de meditação. A sua mensagem está sempre atrelada à prática da meditação. E suas técnicas são especialmente adaptadas para o homem moderno ocidental.
Outro aspecto peculiar a Osho é a inclusão das terapias no processo pessoal de crescimento. A terapia como uma preparação do terreno para a meditação. A terapia como ferramenta para nos desbloquear, nos liberar, nos soltar, nos harmonizar psiquicamente.
Outro aspecto importante de seu trabalho é a celebração, a dança, a brincadeira, a festa.
No meu processo pessoal (‘com Osho’), tenho que reconhecer que foi fundamental a prática de suas técnicas de meditação por muitos e muitos anos, e até hoje, assim como a participação em muitos grupos e sessões de terapia. Sem esses dois pilares, somados à permanente leitura de seus livros, aos seus vídeos, às várias estadias em sua comuna na Índia, certamente eu não estaria me sentindo hoje mais inteiro, mais centrado, de bem comigo mesmo, mais tranqüilo e confiante, com mais discernimento, mais amoroso, mais sensível e sensitivo.

Para concluir, e reforçar essa característica do Osho de nos envolver e nos embalar, gostaria de citar o trecho final de uma fala sua, num vídeo que coloquei hoje na página do ‘Osho Brasil Instituto” no Facebook. Ele diz que todo o seu trabalho é um trabalho de arte e que nós, os seus sannyasins somos as telas nas quais ele pinta, somos os seus poemas, suas esculturas. E conclui dizendo: ‘Para ver a minha criatividade, você tem que ser parte dela, você não pode ser apenas um espectador, não pode ser alguém de fora, você tem que ser alguém de dentro. Porque isso é tão sutil, tão delicado, tão invisível que, a não ser que você entre nisso, com mente aberta, sem pré-julgamento, você não será capaz de experienciar isso. Apenas um pequeno experimento e a porta estará aberta.’

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

CLUBE DOS 10.000 BUDAS


Hoje tornei-me membro do "Clube dos 10.000 Budas". Com isso faço parte de um grupo cada dia maior de apoiadores do projeto do cineasta sannyasin italiano Lakshen Sucameli. "OSHO" O FILME é o projeto do Lakshen. Uma sinopse do filme pode ser encontrada no endereço http://shakyamuni.net.br/2010/09/01/osho-o-filme-sinopse/ . Vale a pena visitar esse endereço e conhecer a beleza e grandeza do projeto do Lakshen.

A produção do filme tem um custo elevado e para isso Lakshen está propondo a todos os amigos de Osho que participem dando suporte a essa produção. Cada amigo do Osho que se torna membro do "Clube dos 10.000 Budas" está contribuindo para a realização do filme. Acesse http://www.oshothemovie.com/eng/10000buddhas.html para obter mais informações sobre o Clube e para tornar-se membro.

A contribuição mínima é de 40 euros, equivalentes hoje a 90 reais. Esse é o custo da inclusão de uma foto em um bloco com a dimensão de 20 x 20 pixels. E essa é a dimensão de cada um dos 5.000 quadrinhos em foi dividida uma foto imensa do Buddha Hall com Osho à frente dos 10.000 budas. Além de colocar a sua foto na dimensão do quadrinho, você escreve um endereço que queira compartilhar - seu site, seu blog, sua página do Facebook, etc e uma foto num tamanho maior, o que será acessado quando se clicar dentro do quadrado com a foto menor.

Caso a pessoa queira contribuir com valor maior, basta incluir uma foto com dimensão maior: 40 x 40 pixels ou 100 x 100 pixels, por exemplo. O total de quadradinhos que a sua foto ocupar irá definir o valor a ser pago. Para ocupar apenas um quadradinho, a pessoa terá que reduzir a sua fotografia para a dimensão 20 x 20 pixels. Usando photoshop ou outro programa equivalente pode-se reduzir a foto ao tamanho desejado.

Após incluir a foto e definir o valor a ser pago, o sistema adotado de pagamento é através do PayPal. Para quem não sabe, PayPal é a maneira mais fácil e segura de se fazer pagamentos internacionais. Eu mesmo já fiz compras de livros, assinatura de revistas e várias outras coisas usando o PayPal com absoluta segurança. O valor a ser pago será debitado no seu cartão de crédito - Visa ou Mastercard. É muito fácil e tranqüilo. O seu cartão precisa ter validade internacional. Isso se obtém facilmente em sua agência bancária. Basta solicitar.

Resumindo, posso dizer: li a sinopse apresentada no site do Shakyamuni, adorei o projeto do Lakshen, e compreendi que para se tornar realidade, o projeto precisa do nosso apoio financeiro. Por isso decidi tornar-me membro do Clube.

Sugiro a todos os amigos do Osho que leiam a sinopse indicada acima e depois se junte ao "Clube dos 10.000 Budas". Vamos juntar nossas forças e fazer esse lindo projeto tornar-se realidade. Vai ser muito lindo ver esse filme nas telas dos cinemas.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Compartilhar por compaixão


www.oshotalks.info
Este é o endereço do projeto de vídeos do Osho desenvolvido pela Osho International.
Eu participo desse projeto como voluntário, traduzindo e revisando legendas em português para um grande número de vídeos-palestras do Osho, que aos poucos estão sendo disponibilizados ao grande público através desse site.

Na minha maneira de ver, eu estou compartilhando mensagens do Osho por compaixão, e acho isso uma coisa muito legal.
Ontem mesmo eu estava lendo o primeiro capítulo do livro "The Ultimate Alchemy - vol. 2". É fantástico e ainda não foi publicado em português. Ele estava dizendo algo muito significativo para mim. E é uma mensagem tão importante para mim, neste momento, no meu atual processo pessoal, que me veio a vontade de traduzir, publicar, divulgar.
Este sentimento de querer traduzir e publicar surge porque sei que a minha miséria também é experienciada por outros buscadores como eu, os quais poderiam também se beneficiar com a clareza daquela mensagem do Osho. É exatamente esse sentimento que defino como compartilhar por compaixão. Quando eu digo 'minha miséria', quero me referir aos questionamentos, às angústias e aflições, aos medos e inseguranças que afloram no meu caminhar, na minha busca.

Este é apenas um trecho do capítulo que eu estava lendo:
“Sempre que você estiver fazendo uma coisa, continue internamente fazendo o seguinte: esteja consciente de si mesmo ao fazer aquilo. Você está comendo: esteja consciente de si mesmo. Você está andando: esteja consciente de si mesmo. Você está ouvindo, você está falando: esteja consciente de si mesmo. Quando você estiver com raiva, esteja consciente de que está com raiva. No exato momento em que a raiva estiver ali, esteja consciente de que você está raivoso. Essa constante lembrança de si mesmo cria uma energia sutil – uma verdadeira energia sutil em você. Você começa a ser um ser cristalizado.” ... “Por consciência eu quero dizer, seja um mestre! E quando eu digo ‘seja um mestre’, eu não quero dizer para ser um controlador. Quando eu digo ‘seja um mestre’, eu quero dizer, seja uma presença – uma contínua presença. O que quer que você esteja fazendo ou não fazendo, uma coisa deve estar constantemente em sua consciência: que você é. “
Grande toque de mestre. E a gente vive constantemente para fora, ligado no que está em volta, nos acontecimentos, na televisão, no jogo de futebol, na política, em quem está nos falando. Quase nunca estamos consciente de nós mesmos, da presença que somos permanentemente, do nosso ser.

Quando eu editava e publicava o boletim mensal, havia em mim esse sentimento de compartilhar por compaixão. Mas havia um outro sentimento também muito forte, o de que aquele trabalho era uma missão. Esse não é um aspecto bonito. Ali entrava um outro personagem, o do missionário, que era forte em mim e que tinha um grande peso na minha disposição em fazer e distribuir o boletim. O ego do missionário está empenhado em divulgar a mensagem do mestre, mas quer convencer o outro, quer ser um porta-voz da mensagem do mestre, quer mostrar ao outro como a mensagem do seu mestre é superior, quer mostrar como ele "entende" a mensagem do mestre, quer “explicar” a mensagem do mestre, e muitas vezes quer mostrar que a interpretação do outro não é muito acertada.

Mas Osho, sendo o mestre que é, cuida de bater no discípulo com seu cajado, na hora precisa. E eu tomei as minhas porradas e as fichas começaram a cair. As falsas raízes em que me apoiava se aprodreceram, as muletas se quebraram e o guarda-chuva emperrou. Eu me vi diante de uma situação e de um momento em que não tive outra alternativa a não ser ficar mais recolhido, mais só comigo mesmo, mais em silêncio, e, principalmente, voltar-me para meu próprio processo pessoal.

Agora estou de novo, mais no anonimato, a colaborar nos trabalhos desenvolvidos pela Osho International . E, de vez em quando, estou escrevendo neste meu blog. Em breve, vou atualizar o site do Osho Brasil. Tenho visto algumas coisas interessantes para serem divulgadas no site.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Vida


É muito interessante observar como cada palavra provoca dentro de nós uma relação imediata com o significado que dela aprendemos. Por exemplo, aqui no nosso mundo judaico-cristão, é dado à palavra Deus o significado de uma entidade toda-poderosa que criou tudo que existe em todo o universo. E essa entidade pode intervir na vida de cada uma de suas criações, em particular nos seres humanos, a qualquer momento, com a autoridade de juiz supremo, extremamente exigente quanto ao cumprimento de preceitos, que embora criados pelo homem, são anunciados como de inspiração divina. O não cumprimento desses preceitos implica em punições e castigos, enquanto a sua fiel observância é agraciada com o paraíso celestial após a morte.

Essas idéias nos foram introjetadas desde nossa mais tenra idade e logo se tornaram uma verdade inquestionável. Esse conceito de Deus é a base de todo um sistema de crenças e rituais que constitui uma religião organizada. Movidos pelo medo e pela insegurança diante dos mistérios da vida, nos agarramos a essas religiões e seus ensinamentos. E isso é um fenômeno que persiste desde os primórdios da civilização até os dias atuais. Quando pronunciamos a palavra Deus, uma luz vermelha (ou verde) se acende em nosso mundo de idéias. Falar algo contra Deus e seus preceitos significa um desrespeito imperdoável e implica pecado, condenação e castigo. É muito difícil uma pessoa escapar do poder psicológico e espiritual dessas religiões e seus deuses.

Quando, por uma abertura de consciência, ou por uma profunda reflexão filosófica ou científica, se desmonta diante de nós todo esse sistema de crenças religiosas, abre-se a cortina de um novo espetáculo: um mundo sem a figura daquele Deus com sua longa barba sentado num trono acima das nuvens a governar a vida de cada um de nós. Para muitos não é fácil encarar um mundo sem um Deus que explica a origem de tudo, que define o que é certo e errado, a quem se pode recorrer nas horas de aflição e que garante uma compensação pelo cumprimento dos preceitos. Assim, quando perdem a crença e a fé num Deus, muitos começam a se sentir perdidos e deslocados num mundo sem sentido.

Foi nesse estado que conheci Osho e o que mais me tocou nas primeiras leituras de seus livros foi a maneira como ele abordava a vida como um mistério para ser aceito e vivido e não para ser compreendido através da mente. E essa vida que pulsa dentro de mim e fora de mim desde toda a eternidade e por todo o universo infinito não precisa receber uma denominação, mas pode ser chamada de existência, de Deus ou simplesmente vida. E Osho falava de uma maneira tão linda e poética a respeito da natureza, das flores, da alegria, que eu pude novamente admitir em meu vocabulário a palavra Deus com reverência e amor.

Mas, eu ainda não consegui me livrar completamente do ranço que pesa sobre a palavra Deus em meu subconsciente. Por isso, tem sido mais fácil para mim a palavra vida que não me traz nenhuma carga pesada, nenhuma idéia de entidade sobrenatural. Ao contrário, ela é fluida e me traz uma sensação de vibração, de pulsação constante, de alegria, de flor desabrochando, criança sorrindo, namorados se amando, pássaros voando, estrelas brilhando, sol nascendo, noite de luar, sensação de correr, de amar, de ser feliz. Eu sinto a vida pulsando dentro de mim, eu sinto e vejo a vida nas ruas, nas matas, nos rios, no céu infinito.

Após conhecer Osho, pude fazer uma releitura de muitos dos ensinamentos que recebi a respeito de Deus e de Jesus, a respeito da criação do mundo e de outros preceitos religiosos. Passei a ver as mesmas coisas, mas sob a ótica da vida e não daquela figura de Deus que me ensinaram. Passei a ver a onipresença da vida, a criação não como algo completo, mas como um processo permanente de criar, o certo e a virtude como sendo o mais fácil e o mais natural, e o paraíso como algo a ser construído e vivido aqui e agora. Descobri que o sentido da vida está no ato viver, em saber como viver e que o nosso grande desafio está na aceitação da vida tal como ela é, na percepção de que a vida é maternal e cuidadosa para conosco e que quando as coisas não vão bem, geralmente é porque nós mesmos criamos expectativas quanto ao desenrolar do mistério da vida. E foi desde que descobri isso, que venho constatando que a vida invariavelmente tem conspirado a meu favor.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Estamos sós - II

Estamos sós neste mundo. Digo isso, não porque li nos livros de Osho e de outros mestres, mas porque eu posso fechar os olhos e ver e sentir isso dentro de mim. Vejo a mim mesmo no estado em que estou, com meus limites e minhas potencialidades, com minhas alegrias e tristezas, vejo meus sonhos e minhas frustrações, vejo minhas aspirações e minhas relações afetivas, mas, sobretudo, eu vejo que estou só e, mais que isso, sou só. Não importa se externamente estou com alguém ou não; internamente eu sei e sinto que estou só.

Amo alguém – pai, filho, esposa, amigo. Esse sentimento é bom e puro. Mas junto com ele vem outras coisas que trago de minha história pessoal: as minhas carências, as minhas crenças, as minhas projeções, os meus medos e inseguranças. Junto com ele vem a paixão, vem o apego, vem a possessividade, vêm as juras de amor.
Fico agarrado a uma dessas pessoas e um pensamento aflora: o de que eu não estou só, de que existe pelo menos um alguém com quem posso contar - pode ser a minha companheira, pode ser meu filho, pode ser meu pai. Esse pensamento me toca bem no fundo, mas é um pensamento. E se nesse exato momento eu for capaz de fechar os olhos, aquietar minha mente e, principalmente, ir além dos pensamentos, verei que estou só.

O outro é real, ele está ali. E é verdade que eu posso contar com esse outro alguém no que se refere a um bom ouvido para escutar os meus lamentos e as minhas alegrias, no que se refere a um carinho e uma palavra amiga e sincera, no que se refere a um apoio material, no que se refere a uma solidariedade e lealdade. Mas ainda assim, se eu for capaz de fechar os olhos e entrar em contato com meu centro mais interno, verei e sentirei que estou só. Só com minha liberdade, só com minha responsabilidade para comigo mesmo, só com minhas escolhas, só com meu silêncio, só com meu prazer e minha alegria mais pura e profunda.

Essa consciência de que estou só, não vem chegando como resultado de um grande esforço – eu não tenho estado repetindo para mim mesmo, “eu estou só, eu estou só, eu estou só”. Essa consciência está chegando como resultado da dissolução natural de ilusões, de sonhos e de projeções que eu criei e crio; do desmonte de crenças e ficções em que me apoiei e ainda me apoio.
Essa consciência tem sido o resultado de um processo que incluiu a criação dessas ilusões e sonhos, incluiu a crença nessas ficções, o apego a elas, a luta por elas com toda minha força. Mas, acima de tudo, nesse processo aprendi o poder da observação, aquilo a que Osho chama de “o milagre do estar atento”. A observação desidentificada acontece junto e através da meditação. Assim, e só assim, as ilusões, as ficções, os apegos, tudo se dissolve naturalmente.
Antes que tudo se dissolva e desapareça, vivo freqüentes recaídas, experimentando a dor de ver cada ilusão e cada ficção escorrendo por entre meus dedos, sem ter forças para segurá-las.

No estágio em que me encontro, tenho um especial prazer em me deixar levar por certas seduções que mais se parecem com um doce de coco, um tango bem dançado ou um beijo gostoso. Mas procuro ficar atento e observar essas seduções, como elas atuam em mim, as minhas reações. Curto aquilo que quero curtir, mas procuro me manter atento para não me identificar com a ilusão, com a ficção. No fundo, essa atenção alimenta a minha consciência de que estou só – no mundo, vivendo a vida, me relacionando, dando e recebendo, mas internamente estando só.

sábado, 22 de maio de 2010

Deus


Muita gente se choca quando vê Osho, num vídeo ou livro, dizer que Deus não existe; que Deus não é uma solução, mas um problema.
Osho não está falando nenhum absurdo, nem isso é contraditório em relação a tudo mais que ele diz.

Sim, o próprio Osho se diz contraditório, mas isso é só na aparência. Aparentemente ele é contraditório e inconseqüente, assim como a vida muitas vezes se nos apresenta, contraditória e inconseqüente. Mas se conseguirmos observar a vida com mais aceitação e menos cobrança, com o coração aberto, com acuidade e compreensão, sem desejos e expectativas, poderemos descobrir nela uma profunda lógica, um profundo sentido, por trás de tudo que parece ilógico.
O mesmo ocorre em relação ao Osho quando ele nos revela a verdade tal como ela é, nua e crua.

Desde os tempos primitivos, os homens recorreram a supostas forças poderosas que pudessem protegê-los das catástrofes, dos animais ferozes, da doença e da morte. Assim, criaram Deuses para aliviar suas carências, seus medos, suas fragilidades e inseguranças. As religiões surgiram nessa atmosfera e cuidaram de lapidar esses Deuses criados pelos homens, de maneira que pudessem manipulá-los, mantê-los sob controle. Assim, cada religião moldou um conceito de Deus e os homens se agarraram a ele.
É interessante observar que em muitas sociedades ele é chamado de Deus Pai, o que bem revela o seu papel de substituto da figura paterna, aquele personagem forte que marcou nossa infância, ora como protetor, ora como provedor, ora como abrigo carinhoso.

Em breve estará disponível no Youtube, postado pela Osho International, um vídeo do Osho, legendado em português, com a palestra entitulada: “O que é mais importante – ser você mesmo ou conhecer a si mesmo?”. Nessa palestra, ele nos fala como o simples ato de, quando criancinhas, segurarmos as mãos de nossos pais, de nossos irmãos, das pessoas mais velhas, marca nossas vidas. Nós nos acostumamos e nos tornamos dependentes de alguém para continuar segurando as nossas mãos ao longo da vida. E assim seguimos nos agarrando a Deus, a mentores espirituais, a cônjuges, a ideologias, a crendices...

Nesse sentido, Deus torna-se um empecilho para o nosso desenvolvimento espiritual; assim como o próprio Osho pode se tornar um empecilho para nós, caso o coloquemos na posição de guia, de infalível, de salvador, de nosso protetor... Não foi isso que fizeram com Jesus, com Maomé e com tantos outros? Isso é o que Gautama Buda quis dizer ao afirmar - "se eu aparecer no seu caminho, ainda que seja num sonho, corte a minha cabeça." - Nenhum Deus, nenhum mestre, nenhuma filosofia pode ser um empecilho para o nosso crescimento espiritual.

Por muitos anos eu tive Osho como um guia, mesmo sabendo de sua insistente afirmação de que ele não é guia nem guru de ninguém. Era a minha necessidade, era a minha miopia.
Hoje, pela minha própria experiência vivencial, compreendi que Osho não é meu guia. O meu guia sou eu mesmo, não a minha mente, não o meu ego, mas o meu próprio ser, que eu só alcanço através de um longo processo de auto-conhecimento, que passa pela meditação e que me permite ser eu mesmo. Nada externo a mim pode ser meu guia e protetor, nem Deus, nem Osho, nem qualquer filosofia. A luz que ilumina meus passos existe dentro de mim e ela ilumina com o discernimento e compreensão que alcanço com a meditação.

O que é essa luz dentro de mim, o que é essa harmonia mágica que vejo e sinto ao meu redor e que se espalha pelo infinito? Tudo isso é mistério e eu posso chamar esse mistério de Deus ou não. É apenas um nome para aquilo que não é palpável, não é imaginável. E por que dar nome e forma a esse mistério? Por que tentar explicá-lo através de discursos, teorias, filosofias, teologias? O que é real é a própria vida, é o amor, é a flor que desabrocha, é a harmonia estelar, é o sorriso de uma criança. Dê a isso o nome que queira dar. Pode chamá-lo de Deus, mas com certeza não será uma figura paterna, sentado em algum lugar acima das nuvens a nos observar, controlar e julgar. Isso é outra coisa. Esse Deus criado pelo medo dos homens e "usado" pelas religiões para controlar as consciências, de fato esse Deus não existe.