sexta-feira, 29 de maio de 2009

Primeiro, seja


Tem momentos em que a gente escolhe que passo quer dar.
E tem momentos que a gente dá um passo porque não consegue dar outro passo senão aquele.
Não é uma questão de escolha. É algo que se torna imperativo.
Eu já vinha me questionando a respeito de continuar ou não com o boletim há uns 3 anos.
Neste último ano eu vim me arrastando. Questionando a cada mês se iria continuar ou não.
A minha intenção era fazer um esforço e continuar com o boletim até final de junho.
Não consegui. O boletim de despedida saiu mesmo em maio.
As razões estão nas entrelinhas da mensagem de despedida que escrevi como editorial nesta última edição de maio.
Não vejo sentido em querer explicitar essas entrelinhas, uma vez que são fatos que não estão diretamente ligados ao boletim e sim ao meu próprio processo pessoal de crescimento.
O que ocorreu foi um gradual desmonte de coisas que realmente eu tinha construído sobre areias, desfazendo-se muitas ilusões, muitas fantasias e muitas expectativas.
A suspensão do boletim foi um subproduto desse meu processo pessoal.

Não cogitei de procurar possíveis interessados em assumir a continuação do boletim, por uma razão principal: o uso do nome Osho Conexão Brasil me foi autorizado por eu ser o responsável pelo Instituto Osho Brasil, o qual está oficialmente filiado à Osho Global Connections de Puna-Índia. Não me cabe repassar essa autorização a terceiros.
Qualquer outra pessoa responsável por algum Centro ou Instituto Osho, também oficialmente filiado, pode solicitar a Puna a necessária autorização para editar um boletim com o mesmo nome ou com outro que inclua o nome Osho. Essa iniciativa caberia a tal pessoa, não a mim.

Estou recebendo dezenas de mensagens – a maioria de agradecimento e reconhecimento pelo trabalho que desenvolvi. Alguns reclamando, pelo vazio que a suspensão do boletim deixará.
Essas mensagens estão chegando carinhosamente em meu coração e me dão a sensação de que fiz o que deveria ter feito ao longo desses anos. Mas, considerando tudo, ainda permaneço com a sensação de que também agora fiz o que deveria ter feito.

Osho nos conta - em Sufis: O Povo do Caminho – que “um homem foi a Buda e disse: ‘Eu tenho muito dinheiro. Tenho muito poder. Apenas me diga como servir às pessoas, como servir à humanidade’. Diz-se que Buda ficou muito silencioso. Ele fechou os olhos. O homem ficou perturbado, confuso. Ele ficou irrequieto e perguntou: ‘Por que você fechou os olhos e por que ficou tão triste?’ Buda abriu os olhos e disse: ‘Sinto uma grande compaixão por você. Você quer servir à humanidade e você não é. Primeiro, seja’.”

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Caminho com Osho - III

Muitos de nós, quando começamos a ler Osho, logo nos encantamos com sua clareza, com a sua maneira simples de ver as coisas e de desmontar os nós que nossas mentes criam ao longo da vida.
Mas, aos poucos, na medida em que essa leitura vai se aprofundando, começam aflorar as necessidades de irmos um pouco além, de trabalharmos questões que antes não incomodavam e que agora começam vir à tona. O que fazer quando surgem essas necessidades? Como trabalhar essas questões segundo a ótica do Osho?

É muito difícil falar sobre esse assunto. Antes de tudo, é preciso considerar que a nossa mente é muito esperta e encontra mil e uma maneiras de camuflar a verdade. Ou seja, é muito difícil a gente se conhecer realmente. Muitas vezes, quem está de fora vê facetas de nosso ego que nós nem percebemos. Por isso um contato pessoal com um terapeuta experiente na linha do Osho é de muita ajuda.

O trabalho com Osho implica em desmontarmos a nossa programação, em desmontarmos o nosso ego através do seu conhecimento, encarando nossas dificuldades, nossos bloqueios, nossas neuras, nossos pontos cegos, nossos buracos negros, enfim, toda a nossa miséria. Como se diz, a ferida tem que ser exposta para poder ser curada e depois cicatrizar. Isso faz parte do processo de auto-conhecimento. E junto com isso tem que acontecer muita prática de meditação, de maneira que, enquanto os lixos vão se dissolvendo, a meditação vai crescendo dentro da gente.

É difícil para qualquer um de nós, dizer que trabalho vai ser bom neste exato momento de nossa vida.
Primeira coisa: Em que ponto nós estamos? Essa é uma pergunta muito difícil para ser respondida mesmo por um terapeuta excelente. E muitos de nós nem somos terapeutas. Eu acho que no fundo, somente cada um pode saber, sentir e intuir o que é bom para si mesmo.
Segunda coisa: quais tipos de trabalho estão disponíveis para cada um de nós fazer? Porque, sob certo sentido, nós só podemos fazer aquilo que estiver disponível para nós. Eu me lembro de ter feito trabalhos que hoje não aconselho para ninguém, mas aqueles eram os trabalhos que estavam disponível para mim. E mediante opiniões e sugestões de amigos mais experientes, conclui que seria bom fazê-los. E eles me ajudaram muito. Embora tenham sido métodos que hoje não acho que sejam os melhores.

A meditação Dinâmica do Osho é uma grande ferramenta. Costuma-se dizer que com a meditação dinâmica não é preciso mais nenhuma terapia.
Mas como fazê-la? A nossa mente é esperta e encontra mil maneiras de sabotar a meditação Dinâmica - estágio por estágio.
Primeiro, a respiração caótica por 10 minutos se for feita corretamente, abre inúmeras portas do mundo de loucuras e repressões que guardamos escondido dentro de nós. E se no segundo estágio, formos totais nos 10 minutos para expressarmos, para colocarmos para fora toda essa loucura e repressão, numa descarga catártica sem limites, estaremos bem esvaziados para no terceiro estágio trazermos energia para nosso centro vital, com o tremendamente energético "hoo-hoo-hoo", desde que a nossa mente não interfira dizendo que é cansativo e que não vamos dar conta. Se esses 3 primeiros estágios forem feitos com totalidade, então será possível no quarto estágio, do "stop", ficarmos absolutamente quietos, congelados, e entrarmos em contato com o silêncio que existe dentro de nós, muito além do mundo das palavras, muito além de toda a verbalização de nossa mente. E por fim, vem o último estágio da dança celebrativa.
Mas a primeira pergunta é: eu faço a meditação dinâmica com totalidade? Existem, pelo menos, condições ambientais para que eu possa fazê-la com totalidade?
Onde fazer a meditação dinâmica dessa forma, sem perturbar vizinhos? E sem deixar a mente interferir e sabotar cada estágio?
É melhor se pudermos fazê-la num grupo, onde quem está começando se sente mais seguro e com mais liberdade e, principalmente, mais estimulado pelos companheiros que estão também se abrindo e se expondo.
O lugar apropriado é um Centro de Meditação Osho. Mas, infelizmente os Centros Osho estão hoje cada vez mais esvaziados. É muito difícil a tarefa de conseguir fazer um Centro de Meditação sobreviver. Os coordenadores precisam se manter financeiramente e manter o centro. É preciso que haja atividades suficientes para manter tudo funcionando. E isso só acontece se houver presença constante e significativa de pessoas interessadas em participar.
Mas as pessoas têm suas mentes espertas e escorregam facilmente de todas as ferramentas que Osho nos deixou. E ficam procurando atalhos oferecidos por outros xamãs, outros gurus, outros mentores que "vendem" suas pílulas mais adocicadas, mais enfeitadas com cores da moda. Alguns até preferem meditações do Osho alteradas e adaptadas por alguns sannyasins que lideram grupos.
Esse é um grande problema para quem quer entrar e experienciar o caminho da meditação de acordo com Osho.

Mas podemos observar e aprender um pouco mais com as ferramentas que Osho nos deixou. Se cada estágio da meditação Dinâmica é uma preparação para o estágio seguinte, isso pode nos dar algumas dicas importantes. Uma delas é que o trabalho com respiração é um dos mais básicos. E também que a catarse, que lhe segue, é fundamental. E na sequência, é muito importante estarmos mais "aterrados" (na concepção de fio terra), fortalecidos em nosso centro, estarmos com os pés nos chão, com vitalidade, presentes e totais. E tudo isso só faz sentido se, na sequência, nos aquietarmos e, absolutamente relaxados e entregues ao aqui e agora, com a curiosidade de uma criancinha pequenina, começarmos a observar, sem qualquer verbalização mental, o desconhecido e maravilhoso mundo do nosso silêncio interno e permanecermos nesse espaço. E, em seguida, celebrarmos a vida, numa atitude de gratidão.

Eu entendo que esse pode ser um bom critério ao escolhermos que tipo de trabalho fazer. Dentre os trabalhos que nos estiverem sendo oferecidos no variado mercado de terapias, se algum deles estiver em sintonia com esses estágios da dinâmica, ou seja, se ele nos propiciar algo que esteja na linha desses estágios, então é possível que ele seja de grande ajuda.
Se examinarmos também os estágios da meditação Kundalini e o significado de cada um - o chacoalhar, o dançar, o sentar e o deitar em silêncio - também poderemos tirar daí algumas conclusões interessantes como dicas para escolhermos trabalhos que nos possam ajudar em nossa caminhada pessoal.

Se pudermos ter o acompanhamento e orientação de um bom e experiente terapeuta que trabalhe na linha do Osho, então estamos com muita sorte, pois isso poderá nos ajudar muito. Se não tivermos esse acompanhamento disponível, então cada um de nós terá que fazer esse trabalho por conta própria de afiar a intuição, as percepções, ficarmos muito alertas quanto às espertezas e jogos de nossa própria mente, fazer uma boa e sincera leitura interna e darmos os passos que pudermos dar a partir do ponto em que estamos, em direção a pontos além de onde estamos, cada vez mais, num crescendo.

E, no meio de tudo isso, é importante lembrar que a vida não é um sacrifício, não é uma luta, não é algo complicado como nossa mente insiste em afirmar. Mesmo sabendo que temos que nos sacrificar em certos momentos, que temos que lutar e que temos que enfrentar situações complicadas, acima de tudo a vida flui além de qualquer expectativa e propósito de nossa mente. E um bom alento é que podemos confiar na existência. Basta lembrar o que Osho nos diz:

"O universo é sempre amoroso e disposto a ampará-lo; para ele você é uma criança.
Ele é muito gentil e com delicadeza toma conta; ele é muito cuidadoso e atencioso.
E se algumas vezes você sente que a existência está dura com você, lembre-se sempre, você deve estar lutando contra ela.
A sua luta cria o problema, de outro modo, a existência é sempre graciosa e maternal."

sexta-feira, 1 de maio de 2009

inner call


Mais um período de repensar a vida e o meu estar no mundo.

Sinto que algumas coisas estão para mudar. Algo dentro de mim está sinalizando, está me cutucando. Certos discursos estão perdendo o significado que tinham para mim. E os compromissos deles advindos perdem a razão de existir.
Por isso, parei coisas que fazia e estou deixando que esses novos apelos interiores se manifestem.

Estou me permitindo seguir os embalos da vida, caminhando a esmo, sem questionar se cada passo é mundano ou divino, se é materialista ou espiritualista, se é vulgar ou sobrenatural.
Estou pronto para largar tudo ou abraçar tudo.
Apenas me interessa, no meio de toda essa caminhada, aguçar minhas percepções para poder ouvir as sutis manifestações dos novos apelos interiores que estão pipocando dentro de mim.

Quero receber esse "inner call" como algo novo, fresco, transformador.
Por isso, caminho a esmo, procurando me desapegar dos conceitos e preconceitos, desde aqueles mais enraizados na infância, até os mais recentes adquiridos na idade adulta, ao som de trombetas, erguendo tochas de uma liberdade presumida e içando bandeiras de um sonho dourado.

Por isso caminho a esmo, aceitando o lixo e o luxo em que tropeço nas ruas, observando-os simplesmente; permitindo-me degustar o nectar dos deuses quando me é oferecido sob um céu estrelado, mas não me furtando a experimentar uma gororoba servida numa espelunca com que me deparo num beco sujo.

Não estou mal nem bem. Não estou triste nem alegre. Este não é o ponto.
Apenas parei e, ao mesmo tempo, continuei andando.