sábado, 31 de outubro de 2009

Montanhas e florestas

Já ouvi versões variadas daquela história de um místico que, ao iniciar-se no caminho, achava que a montanha era montanha e que a floresta era floresta. E que depois de um certo tempo, ele percebeu que a montanha não era montanha e que a floresta não era floresta. Porém, na medida em que sua busca se aprofundava, ele foi capaz de compreender que a montanha era realmente montanha e que a floresta era floresta, até um dia em que teve um vislumbre e percebeu, a partir de uma nova perspectiva, que nem a montanha era montanha, nem a floresta era floresta. E a história assim continuava com alternância de percepções sempre que a compreensão do místico mais se elevava a respeito de montanhas e florestas, e de muitas coisas mais.

Quem está do lado de fora pode ter a impressão de que a pessoa está dando voltas sem sair do lugar. Pode achar que ela está demorando a chegar a uma compreensão aparentemente óbvia.
Mas nesse caminho não há demora nem antecipação. Tudo acontece como tem que acontecer e na hora certa. E aquilo que parece ser óbvio, pode ter um significado e uma profundidade que escapa ao observador externo.Por isso se diz que o caminho é absolutamente individual.

Muitas vezes precisamos percorrer quilômetros e mais quilômetros nessa caminhada para nos darmos conta de que algumas supostas compreensões, pontos de vista e opiniões nada mais são que construções sobre areias e que não resistem a um vendaval mais forte. Somente o indivíduo, a partir de sua própria experiência existencial, é capaz de saber onde está pisando e o significado de cada passo em seu processo pessoal. E o pior é que na maior parte das vezes nem mesmo o indivíduo sabe onde está pisando. Nossa miopia nos impede de ver. E é uma grande conquista quando, pelo menos nos tornamos conscientes da nossa miopia.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Osho não é um filósofo


Para quem está se iniciando nas leituras do Osho, existe algo um pouco complicado para se explicar: Osho não é um filósofo nem um pensador.
No texto que acabamos de traduzir para o site http://www.oshobrasil.com.br/ (texto n° 117), Osho nos diz textualmente: "eu não estou argumentando em favor de alguma filosofia. Eu estou argumentando em favor da existência," E mais: "Eu não sou filosófico, de jeito algum, eu sou totalmente existencial."
A propósito, esse (novo) texto n° 117 (Osho e a Cultura Indiana) mostra a cultura milenar indiana sob um ângulo diferente do que habitualmente nos é mostrado.

Na medida em que nos aprofundamos nas leituras do Osho vamos percebendo que muitas vezes ele é contraditório, incoerente e inconseqüente. Mas acima de tudo isso, percebemos uma profunda coerência, uma elevada lógica e tudo muito conseqüente.

É um pouco complicado explicar isso. Mas, na verdade, quando Osho fala, ele não está compartilhando uma grande reflexão filosófica que ele previamente fez sobre o mundo, sobre as coisas do mundo. Quando fala, ele está respondendo espontaneamente a perguntas que lhe são formuladas por buscadores. A resposta dele é proferida naquele exato momento; ele fala como um porta-voz da vida, da existência. E a vida não acontece de maneira linear. Na aritmética, dois mais dois são sempre quatro. Mas na vida real tudo é imprevisível, dois mais dois podem ser três ou podem ser cinco. A vida escapa ao nosso controle.
Por ele estar em permanente sintonia com a verdade eterna e universal, com o fluxo da vida, as respostas brotam naturalmente, momento a momento, e ele responde ao buscador. E aqui, algo precisa ficar claro: ele responde muito mais ao buscador do que à pergunta formulada pelo buscador. Ele responde aquilo que o buscador precisa ouvir, não o que ele quer ouvir.

Mergulhar nos textos do Osho é um grande deleite. Os textos são transcrições de suas palestras. E ele fala como um poeta e nos revela meandros sinuosos da existência. Lendo seus textos, somos transportados a uma compreensão clara e inovadora do mundo, das coisas, das pessoas, dos relacionamentos. E embora seja inovadora, a gente fica sempre com a sensação de que essa já era a compreensão que tínhamos de todas essas questões.
E é verdade. Todos nós temos dentro de nós essa semente de compreensão mais clara e verdadeira de tudo. O problema é que essa nossa compreensão pura foi abafada, inibida, censurada e reprimida através do nosso processo de preparação e adaptação ao mundo externo, à sociedade e seus diversos pilares: família, igreja, estado, moralidade, tradição, etc. etc.

A mensagem do Osho é um convite para que resgatemos em nós essa compreensão pura, para que resgatemos aquilo que somos anteriormente a toda essa programação que recebemos, aquilo que somos por trás do ego que desenvolvemos e carregamos ao longo da vida. E o caminho para esse resgate se chama meditação. Meditação é algo vivencial, não é uma teoria ou filosofia. Meditar é penetrar no mundo da não-mente, muito além do mundo da mente, dos pensamentos e das reflexões mentais propiciadas pela leitura de livros, mesmo os de autoria do Osho.

Assim, o circulo de compreensão da mensagem do Osho se completa. A mensagem do Osho não se resume à soma do conteúdo de suas palestras. O trabalho do Osho não acontece apenas como resultado da leitura de seus livros. A mensagem do Osho não é filosófica, mas sim existencial. A prática da meditação propicia a alquimia necessária, a transmutação necessária para nos livrarmos das máscaras e das armaduras com as quais nos identificamos para que, assim, possamos resgatar aquilo que no Zen se costuma chamar de nossa face original. É nesse sentido que se costuma dizer que a meditação é a única e verdadeira terapia possível, resgatando a nossa verdadeira liberdade, a nossa potencialidade, aquilo que somos verdadeiramente. Ao contrário das muitas psicoterapias ocidentais que propõem tornar o nosso ego mais saudável, Osho nos diz que o ego é sempre doentio. Esse é o tema do próximo texto (n° 118) que iremos traduzir em breve para o nosso site http://www.oshobrasil.com.br/ .