segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O caminho com Osho



Apesar de tudo o que já se falou e escreveu sobre o engodo das religiões organizadas ao longo dos tempos, ainda permanece no inconsciente de muitos de nós essa vontade (ou necessidade) de um suporte para o nosso caminho espiritual. Por mais que tenhamos um discurso de liberdade, de individualidade e de autodeterminação, quando entramos no caminho com Osho, nem sempre é fácil lidarmos com a ausência de uma certa organização, de uma estrutura à qual possamos recorrer para nos orientarmos. Quantas vezes sentimos a falta de encontros regulares para compartilharmos experiências e dúvidas, ou mesmo para celebrarmos datas especiais ou o recebimento do sannyas?

Mas Osho detonou com todas as organizações e mostrou como todas elas acabam por sufocar a nossa busca. Quando adotamos um guru, seguimos um ritual, práticas obrigatórias e preceitos, acabamos por nos apegar a tudo isso, deixando aos poucos a pureza inocente de nossa criança que nada sabe e tateia no escuro em busca da verdade. Quando se tem um guia, a busca já não é a mesma. O guia lhe explica tudo e diz como as coisas devem ser.

O que fazer? Há muito para se fazer. Osho nos desafia a encontrarmos o mestre dentro de nós. E isso é complicado e simples ao mesmo tempo, é tarefa gigantesca que implica coragem, riscos, persistência, buscas e descobertas, implica percorrermos sozinhos terrenos desconhecidos, sem sabermos ao certo aonde chegar, sem mapas, sem bússola, sem muletas e sem guarda-chuvas.
Ouvimos quando ele diz para nos livrarmos dele, mas continuamos agarrados. É como uma criancinha aprendendo a andar, mas que ainda se sente insegura para soltar as mãos dos pais.

Seguir o caminho com Osho não é fácil. Por isso, há muitas desistências no percurso. Muitos companheiros simplesmente abandonam a caminhada, outros optam por alternativas mais estruturadas disponíveis no mercado ou preferem atalhos que prometem acesso mais rápido e mais fácil a alguma meta. Outros ficam fascinados com o guia de alguma nova caravana que passa pela estrada.

E por que não é fácil seguir com Osho? Sobretudo porque significa não segui-lo, significa seguir sozinho, significa ter que aguçar a própria percepção, a própria intuição, pois não há ninguém a nos guiar a não ser nós mesmos; não há ninguém a nos cobrar a não ser nós mesmos. Dizer que o caminho para isso é a meditação não simplifica as coisas. As técnicas estão disponíveis. Mas técnica não é meditação e ainda corremos o risco de nos apegarmos à técnica e não chegarmos a lugar algum. Mas como Osho diz, sem a técnica também não chegamos a lugar algum. E o que mais nos deixa desconcertados é que meditação não é como uma academia de ginástica onde além de um exercício objetivamente definido, existe um instrutor para orientar e corrigir. A meditação é um mergulho individual, é realmente um mergulho no escuro, um mergulho no vazio. E só quem mergulha sabe o que significa esse vazio, sabe o que as palavras não conseguem traduzir.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Fidelidade e comprometimento


Algumas pessoas, inclusive amigos sannyasins, às vezes questionam porque em meus depoimentos e comentários eu me fixo apenas no Osho, enquanto existem tantos outros autores e mentores espirituais, cujos trabalhos também levam a um aprofundamento da consciência, do entendimento, da sensibilidade, da compaixão, do amor, do silêncio, mesmo que nada tenham a ver diretamente com o Osho.

Eu entendo esse questionamento e inclusive acho muito apropriado que essas pessoas, em suas palestras e em seus trabalhos se apóiem em mensagens de um Eckart Tolle ou de um A H. Almaas, ajudando mesmo a divulgá-los. Apesar disso, eu sinto que Osho ainda tem muito para ser explorado, muito para ser difundido e muito para ser esclarecido. Há muitas pérolas do Osho para serem trazidas ao grande público, e, de uma maneira clara, pois muitos mal-entendidos se espalharam, em parte em conseqüência de uma distorção orquestrada pelo "sistema" com apoio da mídia, sobretudo nos anos 80, embora ainda hoje encontremos esse trabalho leviano de se denegrir a imagem do Osho, como o fez recentemente revista VIP.

Esta é uma das razões porque tenho insistido em trabalhar especificamente com Osho. O mundo mudou? Sim. Outras pessoas estão falando coisas significativas? Sim. Mas é fundamental que a sua mensagem original seja preservada e difundida. E sei que tentei fazer isso de maneira muito rígida no passado, o que é incoerente com o próprio espírito da sua mensagem. Busco hoje mais maleabilidade, faz parte do meu processo, mas não quero perder essa fidelidade à sua mensagem original. Sinto que este é um trabalho que precisa ser feito. E eu me coloco como voluntário.

Se no mundo de hoje dispomos de um leque com mil e uma vertentes, e as pessoas podem buscar pela internet canais para acessar todas essas vertentes, eu quero manter um canal para que as pessoas possam acessar a mensagem do Osho de maneira mais original e mais preservada. As pessoas têm a liberdade e o direito de fazerem suas buscas em todos os canais, inclusive os do Osho.

Uma segunda razão para essa minha “exclusividade” ao Osho é que pessoalmente, eu sinto que os toques do Osho, sem qualquer mistura com outras fontes, têm sido uma sucessão de ciclones em minha vida. Às vezes passo por pequenos períodos de calmaria, mas logo em seguida enfrento uma sucessão de grandes turbulências. Eu vejo à minha frente um longo caminho e Osho tem sido uma luz para mim. É claro que é uma luz que indica a minha própria luz e com isso tenho dado passos. Ainda não estou no ponto de dispensar essa luz do Osho, sobretudo nos meus tropeços, nos momentos de incertezas.

Quando leio outras fontes, como um Eckart Tolle ou um Shunryo Suzuki, eu reconheço muitas coisas que vi anteriormente no Osho, ainda que com outras palavras, com outros exemplos, o que, por vezes, até ajuda minha compreensão. Mas fico sempre com a ótica do que aprendi com Osho, checando se o que eles estão dizendo é válido ou não. Ou seja, a minha confiança em Osho é absoluta. E a confiança nessas outras fontes é relativa. E é exatamente a confiança absoluta que tenho no Osho, que possibilita a minha entrega e a aceitação para que novas possibilidades se abram em minha vida a partir mesmo de muitos de seus toques.

Pode ser que no meu processo pessoal eu chegue a um ponto em que "jogue os livros do Osho na fogueira", como em algum lugar ele mesmo sugere, mas ainda não cheguei nesse ponto. Até lá, o que tenho procurado entender é a minha rigidez e ortodoxia que muitas vezes geraram polêmicas e broncas por parte de outras pessoas. Tenho procurado abrir mais minha receptividade e aceitação para com outras possibilidades de ver, de compreender, de crescer.


terça-feira, 23 de setembro de 2008

A meditação se misturando com a vida

Conheci o Osho há 23 anos.

Nos primeiros anos li, afoitamente, os trinta e poucos livros que, então, haviam sido publicados em português. Em 1986 tornei-me sannyasin e, no ano seguinte, fui à Índia para estar diante dele, sentí-lo e vê-lo falar, onde permaneci alguns meses. Voltei em 1989 e, depois que ele deixou o corpo, ainda visitei a sua comuna diversas vezes.

Fazendo um retrospecto desses meus últimos 23 anos de busca, com muita leitura de Osho, aprofundando minha meditação, observando meu próprio processo, eu posso dizer que hoje estou muito menos confuso do que estava antes, quando eu me sentia muito dividido. Nunca estava inteiro nas coisas. Hoje eu me sinto mais quieto e silencioso. Ainda percebo angústia e ansiedade dentro de mim. Faz parte do meu processo, inclusive essa percepção. Mas, no geral, me sinto menos dividido, tenho mais clareza em relação ao que busco, ao que quero, ao que almejo. A minha busca, que eu poderia chamar de espiritual, é hoje o maior foco de minha vida. É um querer que bate no meu coração. O que eu quero hoje, do fundo do meu ser, é estar de bem com a vida, estar em paz dentro de mim, estar relaxado, estar em harmonia com a natureza e o cosmos. Sobretudo estar em contato com meu silêncio interior.


Olhando todo o processo que vivi nesses últimos 23 anos, tenho que reconhecer que todos os obstáculos que enfrentei, todos os fracassos que vivi, todas as crises por que passei, todas as situações em que me vi confuso e perdido, todos esses momentos foram fundamentais para que eu pudesse, passo a passo, ir rompendo com a minha velha programação, para que eu pudesse me soltar um pouco de minha velha carcaça e, progressivamente, caminhasse, renascendo com mais liberdade, mais discernimento, mais coragem para dar saltos, mais coragem para deixar tantos fardos que, desnecessariamente, eu carregava.

Ainda bem que não recuei diante de tantos momentos de incerteza, que não tive medo diante dos desafios, quando foi preciso romper com muitas amarras ao passado. Ainda bem que uma luz me deu alento e, muitas vezes, recusei buscar os velhos refúgios, quando me vi perdido e confuso. Ousei encarar as novas situações com coragem, para afirmar o que eu queria. Se nada disso tivesse ocorrido, eu ainda seria o velho Ronaldo dividido, carregando uma grande sensação de tristeza, de infelicidade, de fracasso, que era como eu sentia a minha vida antes de conhecer o Osho.

Os melhores momentos de minha vida foram aqueles em que eu me lancei e me permiti sentir a vida, abrir meu coração. Abracei pessoas, árvores, animais; foram os momentos em que eu me joguei, dancei, cantei, pulei, namorei. Foram momentos em que deixei a cabeça de lado e me permiti fluir junto com a vida, me permiti ouvir o pulsar da vida e entrei em sintonia com essa pulsação. Às vezes até com um pouco de medo, mas sem medir muito as conseqüências.

Fiz muitas coisas que hoje não tenho disposição, nem pique e nem vontade de fazer. Mas, na época, foram fundamentais para mim. Até mesmo, para que hoje eu não sinta mais a necessidade de dar aqueles saltos. Talvez, porque os saltos já tenham sido dados. Dei muitas cabeçadas, fui muitas vezes inconseqüente e irresponsável. Mas, que bom que pude ser inconseqüente e irresponsável! Principalmente para mim que sempre fui tão certinho, tão obediente, tão bonzinho e tão responsável, tão ajuizado e, principalmente, tão travado e bloqueado.

O mais importante é que eu precisei passar por tudo que passei para chegar a esta situação em que vivo agora. E, certamente, eu ainda preciso passar por esta situação em que vivo agora, para me abrir para uma nova situação que irá se revelar daqui mais um pouco.

Para mim, tem sido muito importante ler Osho, reler, depois me lançar na vida; depois sentar e meditar, depois me lançar na vida novamente; depois ler e reler Osho, fazer novos experimentos, tentando entrar em sintonia com meu coração e deixar que ele se expresse; e depois sentar e meditar em silêncio; e assim sucessivamente, cada vez aguçando mais o meu "observador interno". É a meditação se misturando com a vida e a vida se misturando com a meditação.

sábado, 20 de setembro de 2008

Palavras Iniciais

A vida vai nos acomodando de um lado e de outro. A existência não nos abandona mesmo. Estamos sendo sempre chacoalhados. Ainda que passemos um tempo aparentemente quietos, mais acomodados, na verdade, estamos acumulando "quantum", como diz o Osho, para dali a pouco começarmos a explodir num novo turbilhão de idéias, de movimentos, de projetos, de criação e de realização.

Agora, de repente, por uma série de circunstâncias, cresceu em mim essa vontade de escrever um blog, que pode ser uma experiência rica e prazerosa, um canal para um novo tipo de fazer, diferente do meu fazer anterior. Parece que o meu fazedor se deliciava com o que era árduo, com mobilizar pessoas, atraí-las e conduzi-las. Mas tinha que ser algo palpável, como alugar uma sala de meditação, dirigir um centro, promover eventos, fazer reuniões, desenvolver um projeto comunitário, ir para lá e para cá. Por fim, tudo isso acabou me cansando. Daí, eu parei e dei um tempo. E, no meio desse tempo, quando já estava me sentindo descansando até demais, ao ponto de me sentir incomodado, a Amras me descobriu na internet, gostou de muita coisa que viu no site do Osho Brasil e no boletim, e resolveu me escrever. Começamos uma troca de idéias que acabaram por despertar em mim uma vontade de um novo fazer, um fazer que tem mais a ver com um criar, com um simples compartilhar, com um let-go prazeroso. E assim surgiu essa idéia do blog.

Na verdade, no meu trabalho no Osho Brasil, por força do site (http://www.oshobrasil.com.br/) e do boletim Osho Conexão Brasil, eu recebo muitas mensagens com questionamentos sobre meditação, sobre Osho, sobre o seu trabalho, sobre o sannyas, sobre experiências de vida. Essas mensagens vêm tanto de sannyasins como de não-sannyasins, vêm de amigos e de leitores do Osho. E nas respostas, eu costumo aprofundar minhas considerações, coloco meu coração, minhas experiências, minhas próprias dúvidas, o meu viver. Muitas vezes, eu fico achando que uma ou outra mensagem contém informações que poderiam ser úteis e esclarecedoras para muita gente. Chego a manter uma cópia daquela resposta por um tempo, pensando em aproveitá-la em um artigo no boletim, mas acabo deletando. E muitas vezes deleto porque sinto que aquela é uma resposta minha pessoal e por isso não caberia no boletim que é do Osho Brasil e não meu.

Por tudo isso, eu dou as boas-vindas a essa bela sugestão da Amras para que eu abrisse este blog. Vejo neste blog uma real possibilidade de interação que falta tanto ao site quanto ao boletim. Através dos “comentários”, todos os leitores poderão se manifestar a respeito do que estarei escrevendo e poderão fazer sugestões e críticas ao próprio site e ao boletim. E talvez se sintam até mais estimulados a enviarem seus questionamentos e suas considerações para um compartilhar mais amplo. Sinto que este blog tem o potencial de ser mais um espaço sannyas para abrirmos nossos corações. Que desfrutemos juntos, com a gentileza dos companheiros de jornada, inspirados pelo Osho, a grande e linda energia que nos une.