domingo, 2 de novembro de 2008

Relações afetivas

Conversando com uma amiga que trabalha com tarô, ela me disse que noventa por cento das questões que as pessoas levantam nas suas sessões é a respeito de relacionamentos afetivos. Uma questão que, de fato, mexe todo mundo. Alguns, desde os 10 anos de idade e outros, até os 100, se vivemos até lá. E o incrível é que passamos uma vida inteira ocupada com questionamentos sobre esse tema e, na maior parte das vezes, sem chegarmos a uma compreensão maior, nem mesmo para os itens mais simples e banais.

Problemas como ciúme, posse, atração e rejeição, fidelidade, frigidez e fissura por sexo, ou problemas de incompatibilidade de gênios, de gostos, de buscas e anseios, estão sempre presentes nos consultórios de psicoterapeutas, nas conversas com os amigos mais íntimos ou nos pensamentos que ocupam nossas noites sem sono. E, infelizmente, por trás desses problemas existem muito mais desencontros que encontros, muito mais incompreensões que compreensões.

A propósito desse tema, ouvi o seguinte comentário de um outro amigo: “parece ser preciso experienciarmos relacionamentos desarmônicos e frustrantes, para que possamos encontrar e viver um verdadeiro amor.” Mesmo sem entrarmos nessa questão do amor verdadeiro, pois ela implica um outro campo de entendimento, o que o nosso amigo basicamente quis dizer é que a gente precisa viver várias relações para esgotarmos desejos, sonhos; para compreendermos que nossas frustrações se originam de nossas próprias expectativas, e que muitas delas são construídas em cima de ilusões e fantasias. Sair do sonho e cair na realidade seria o primeiro passo para a maturidade, embora muitas vezes seja um processo dolorido.

Se seguirmos essa abordagem da questão, teríamos que acrescentar - além desse primeiro passo de dissolução de ilusões e expectativas nos relacionamentos -, mais um passo, que seria o de vivermos a experiência de estarmos só, de descobrirmos a dor, o prazer e os encantos de uma vida solitária; que seria o de aprendermos a nos apoiar em nós mesmos, de acreditarmos em nossa capacidade de enfrentarmos sozinhos as tempestades e os trovões, assim como de nos deliciar com a brisa da manhã ou com um inesperado pôr-do-sol.

Mas, será mesmo necessário experienciarmos vários relacionamentos? E será necessário termos depois a experiência de uma vida a sós? Entendo que essas não são as perguntas mais relevantes e que elas podem nos desviar do foco da questão.

O foco da questão é a necessidade de dissolvermos a ilusão de que o outro irá suprir a nossa carência afetiva, que se instala em nosso peito qual um buraco negro. Não importa se para isso a pessoa precisa viver um, vários ou nenhum relacionamento.

O foco da questão é que somente quando estamos inteiros, quando nos bastamos a nós mesmos, quando somos capazes de nos amar do jeito que somos, quando podemos estar em paz e de bem com a vida, por nossa própria conta; somente quando deixamos de ser mendigos da atenção, do carinho e da presença do outro; somente quando somos imperadores, e não mendigos, estamos prontos para vivenciarmos um encontro verdadeiro com alguém que também esteja inteiro ou, pelo menos, esteja na busca de sua integridade. E assim, podemos iniciar, de mãos dadas, uma caminhada ascendente. Sim, juntos, mas cada qual com sua individualidade, sua liberdade, sua busca e realização.

2 comentários:

Bosco Carvalho disse...

Champak,

mesmo quando nos tornamos 'imperadores' podemos estar perdidos no próprio conceito de sê-lo.
Nos identificarmos com esta condição de estarmos 'por cima'.
O fio da navalha corta ao meio quem escorrega na ilusão de 'ter superado'.
No entanto é impossível negar o fato de que quem escalou certos picos de consciência nunca será o mesmo, nem quando retorna ao vale 'das lágrimas', só para brincar com a figura bíblica.
Em alguns momentos de 'iluminação' pude sentir a liberdade da necessidade de relacionamentos. O prazer de 'ser' supria todas as minhas necessidades. Mas os neurônios e todo o sistema hormonal tem lá seus hábitos e vícios químicos e se não meditamos, voltamos ao estado de 'não iluminados' com muita facilidade.
Todos os quase 21 anos fora do Brasil me permitem ter uma 'visão de águia', em relação a um monte de condicionamentos próprios de nossa educação, da qual não me excluo e posso perceber a dificuldade das mentes (ou "pessoas") em entenderem o que se passa e principalmente o que 'não acontece'.
Se antes de deixar o Brasil eu já me sentia incomodado pela inércia das pessoas daqui, imagine agora...
Eu continuo a fazer meu trabalhinho de divulgação das palavras do Osho, através de alguns tópicos permanentes numa comunidade do Orkut, tanto que já me apelidaram de 'Bosho', que mudei para 'bOsho', pois gosto de brincar com as letras também.

Estive em Brasília e pude sentir a atitude de alguns 'donos' do pedaço de não permitirem que outros dividam o espaço. Outros só queriam ter um tipo de apoio financeiro para realizarem 'outras viagens', na ilusão de que eu havia voltado cheio de grana... Preferi voltar para meu cantinho e me dedicar a outros negócios e a criar uma 'Revista Ecológica'.
Entendi também que para muitos, a luta pela sobrevivência está acima de qualquer outro tipo de possibilidade menos 'material'... rsrs

Mas o papo aqui é 'relacionamento', né?
Eu continuo vivendo-os de acordo com o que meus condicionamentos e limitações permitem e tenho variado entre liberdade, libertinagem e abstenção.

Namastê!

Shraddes

Ares disse...

Beleza Champak,
Pra mim é realmente um aprendizado diário.
O outro é um bom espelho, para vermos nossas crenças e condicionamentos.
Grande abraço,
Ashara